quinta-feira, 3 de maio de 2012

Nunca antes, na história das redes sociais...

Nunca antes, na história desse país, usamos tantas redes sociais. Com o perdão do clichê lulista, nenhuma frase exprime tão bem o momento social e econômico que estamos atravessando. A utilização da internet, venda de notebooks e smartphones com acesso às redes sociais bate recordes mês após mês. E isso parece ser só o começo. Em um país que não tinha histórico de grandes avanços tecnológicos, a introdução de novas tecnologias na vida de jovens e adultos parece ser a formula para um novo pensamento compartilhado. Quantas boas idéias não podem surgir em um brainstorm? Imagine uma rede inteira de brasileiros de todas as classes conectados pensando juntos alguns problemas políticos e econômicos que urgem serem solucionados pelo nosso legislativo. Twitter e Facebook são ferramentas violentíssimas de protesto, embora alguns céticos duvidem dessa sua capacidade. É claro, que guardada as devidas proporções, uma foice e um ancinho na mão de um sem-terra impõe mais respeito que um Iphone na mão de um adolesce espinhento, mas imagine um exército de 20 mil, 200 mil adolescentes espinhentos cobrando uma solução para suas escolas, seus bairros?
O tempo do político alienado já foi, e quem quiser fazer política no século 21 precisa de aliados digitais. Maluf precisa aprender piar no mesmo tom do passarinho azul. E é essa a grande força das redes sociais, esse poder de coerção invisível, o medo que a democracia deveria naturalmente ter da turba enfurecida de votantes perplexos, de tablets na mão. O protesto nas redes sociais, se bem arquitetados, podem sim, ser válidos. E podem ter bons resultados. Poderíamos tirar o Brasil do atraso histórico e da lama da corrupção de uma vez por todas, ao invés de simplesmente financiarmos carros novos.

Então... Onde está o povo?

O povo está no Twitter, xingando os técnicos de todos os times paulistas. O povo está lá, digitando hashtags ridículas que algum apresentador solicita com micagens, para decidir a sorte de algum personagem real-fictício. O povo está respondendo a perguntas de compartilhadores de conteúdos que são pagos por gigantes com Google e Facebook para produzir informação barata e rápida. O povo está compartilhando um tombo ou uma entrevista de algum ex-BBB ou ex-fazenda, como se todos não fossem gado.

O povo está no Facebook. Compartilhando imagens e mais imagens que causam um lapso mínimo de riso. Um gato, um cara irônico, dois gatos, um brinquedo da década de 80, três gatos, uma ofensa religiosa/sexual/esportiva. São milhares, centenas de milhares de pessoas compartilhando conteúdo inútil, desde é claro, que seja fato. Ou #fato. Ou "FATAÇO". Tucanaram o fato, diria o macaco Simão.Afinal, se é fato, dá pra ser mais do que isso? Mas é isso que o povo gosta. O povo quer ser igual. O povo é carente, tadinho. Quer gente pra curtir e compartilhar suas desgraças e felicidades pessoais. O dedinho pra cima azul do Facebook é um abraço patético virtual. É um "eu sei como você se sente" em forma de bits. E o povo brasileiro é assim. Prefere o político ladrão que abraça e beija do que o político carrancudo que instaura CPIs. Engraçado é nunca vermos uma imagem escrita "Compartilhe se você votou no PT, ou curta se votou no PSDB".
E é por isso que continuamos a compartilhar vídeos engraçados e piadas de time, mas evitamos botar o dedo na ferida, e falar do que interessa. Não queremos dar um frio no estômago de nossos amigos e parentes distantes, mostrando nas redes sociais como somos infelizes e como nossa vida é mesquinha. E como somos manipulados pelo Jornal Nacional e pelo José Luís Datena. E que o povo está tão acostumado a consumir conteúdo pré-fabricado que não sabe como agir nas redes sociais. E age assim, regurgitando conteúdo mal-feito, imagens mal editadas e frases mal-escritas.

No turbilhão disforme de informações gerados pelas redes sociais, está tudo lá. Tirinhas de humor, vídeos, astros teens, unhas, esmaltes... Willian Wonka. Só falta coerência. Acessar os feeds do Facebook ou do Twitter se tornou uma experiência virtual semelhante a uma visita a feira-livre. Você vê desconhecidos gritando, vê coisas que não te interessa e as coisas que você acha interessante ficam escondidas ou inacessíveis. E lá estamos nós, perdidos. Em determinado momento nos questionando porque estamos ali. Afinal, porque entramos naquele lugar?
Não temos a resposta. Por pior que seja, ainda preferimos uma experiência social vazia do que a solidão. Talvez a resposta seja a mesma para aquela mulher que é maltratada pelo marido grosseiro, mas mantém as aparências. Ou aquele cara gentil e simpático que é traído pela namorada, mas se faz de desentendido. Queremos afago, carinho, compreensão... E aceitamos isso de qualquer pessoa que esteja disposta a compartilhar ou curtir nossas amenidades. Qualquer um que tope abraçar com pena nossa pequenez.

As redes sociais não são feitas de gatos, brinquedos da década de 80 ou Willian Wonkas. As redes sociais são feitas de pessoas. E no Brasil, elas são feitas de brasileiros. Nunca teremos uma experiência social que preza conteúdo no lugar de humor, porque  vivemos em um país que consegue anunciantes milionários para o Zorra Total e o Pânico, mas precisa de incentivo governamental para manter a TV Escola no ar. Nunca vamos alcançar o ideal Europeu de protestos nas redes sociais, porque demoramos quase trinta anos para perceber que estávamos em uma ditadura, e ainda hoje nos perguntamos quando ela começou.
Nunca vamos ter uma país que preza a política no lugar do fanatismo esportivo, porque em nosso país os televisores estão todos ligados na final do campeonato, mas sempre inativos durante o Horário Eleitoral Gratuito.

Os nossos Facebooks e Twitters são espelhos de nossas almas vazias de cidadãos de segunda classe. Desinteressados, vazios e babacas. Apolíticos, ou idiotas, como diriam os gregos. Talvez essa seja a característica mais fascinantes das redes sociais: Escancarar nossa sociedade do jeito que ela é, com todas suas idiossincrasias. Transmutar para o mundo digital nossa vida de brasileiros burros medianos, que compra caro e paga parcelado. Compartilhar as experiências de um povo que vota mal e não se importa em tentar acertar na próxima eleição. Registrar no mundo virtual como lidamos bem com a violência e a corrupção que mata nossos filhos na rua e nossos avós na fila do hospital. Espalhar para o mundo todo como somos felizes sem motivo, porque nossas taxas de juros são altas, nosso sistema de saúde falido, nossa segurança uma piada e nossa educação está abandonada. Mas ainda assim, sorrimos e somos felizes no Facebook e no Twitter.

Particularmente, eu acredito que quem ri sem motivo está bêbado, ou tem alguma deficiência  mental.